terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dissecando Safe Trip Home



Safe Trip Home é o nome do terceiro (e seguramente menos apreciado) álbum de Dido Armstrong. Lançado em 2008, contrariou a expectativa de milhões de fãs apaixonados pelo estilo musical presente em seus outros dois trabalhos, No Angel e Life For Rent, lançados em 99 e 2003 respectivamente. A troca da eletrônica pelo acústico neste álbum é apontada como um dos principais fatores que desagradaram o público.

Mas o que com certeza não se esperava, era a mudança radical de tom de um álbum para o outro. Em Life for Rent, temos faixas como White Flag, a homônima Life For Rent, a maravilhosa Don't Leave Home, Sand In My Shoes; enfim, músicas que retratam a voz de Dido em suas mais várias nuances, mas sempre com aquela sedosidade inconfundível. Porém, se já estávamos acostumados com o tom íntimo de Dido (lembrem-se de Mary's In India, My Lover's Gone, Honestly OK, etc), ela nos leva neste terceiro álbum a um nível muito mais profundo do seu íntimo.

Podemos eleger como causa a morte do pai, principal razão do adiamento de Safe Trip Home (Dido dedica-o a ele, logo abaixo dos agradecimentos no CD). Porém, a qualidade está longe de ter caído - é inclusive apontada uma evolução pelos críticos, que em sua grande maioria aplaudiram o trabalho. É aqui que vemos o talento musical de Dido despontando como nunca antes.



Para entendermos a obra, precisamos voltar para a sua gestação: "Quando cheguei da turnê, no começo de 2005, levei um tempo só para absorver o que tinha acontecido. Estava tão despreparada para aquilo". Ela se refere ao enorme sucesso de seus dois primeiros álbuns e de sua turnê mundial. No Angel havia sido o álbum mais vendido de 2001, enquanto Life For Rent foi nº1 em 26 países.

"Tinha tido uma época incrível, mas acho que precisava dar uma desacelerada, retornar à vida normal, e trazer o foco 100% de volta à música", ela diz. Nesta época, Dido decidiu aprender a tocar novos instrumentos. "Eu queria dedicar um tempo para me tornar uma melhor música".

Tal desejo encontrou eco no produtor do álbum, Jon Brion: "Se há algo do qual estou particularmente orgulhoso neste álbum, é incentivar Dido a tocar mais instrumentos". Ele a levou numa viagem aos Estados Unidos, para aperfeiçoar suas habilidades musicais: "Jon me convenceu a ir para L.A. e escrever um pouco. Nós tivemos essas semanas brilhantes trabalhando juntos. Parecia que eu podia tentar qualquer coisa que quisesse, com qualquer instrumento que quisesse. Aquele foi o verdadeiro começo do álbum".

Em Los Angeles, a cantora aprendeu não só a tocar novos instrumentos e se aprimorar; mas também aprendeu sobre os aspectos técnicos da música, chegando até a fazer cursos na UCLA. Ao retornar à Inglaterra, Dido diz não ter sentido urgência em começar a gravar seu disco. "Na verdade, quando terminei todo o meu trabalho com Jon em L.A., voltei pra Inglaterra e percebi que na verdade queria mesmo era começar a usar todas aquelas coisas que tinha aprendido lá. Então sentei na mesa da cozinha com meu laptop e um microfone e comecei a escrever e a gravar. Acabei com toda uma nova leva de músicas".

O irmão de Dido, Rollo, que já havia co-produzido e co-escrito os outros dois álbuns da irmã, não poderia ter ficado fora. Dido descreve a vez em que ele foi a sua casa e o mostrou as músicas que estava fazendo: "Ele ficou muito empolgado com elas, então decidimos levá-las para o estúdio. Mas a maioria das gravações do álbum vieram mesmo daquela vez na cozinha".

Durante todo o processo criativo na criação de Safe Trip Home, é também importante ressaltar que a arte de Dido continuou sendo ponte entre seus sentimentos e seus ouvintes. Jon afirma: "Sinceramente, eu não acredito no que a maioria das pessoas cantam quando ouço seus discos. Eu ouço: 'Eu quero atenção, eu quero ser famoso, eu quero que pense que sou inteligente'. Mas quando é a Dido, sei que ela não está brincando. Eu a ouço em suas letras. Deixe de lado todas as suas preconcepções e você verá que suas palavras são totalmente sinceras. Não me surpreende que tantas pessoas ao redor do mundo tenham se ligado com ela".

Esta honestidade que Dido expressa em suas letras é reforçada pela própria cantora, que diz que enquanto escreve, há momentos em que se esquece completamente que alguém irá ouvir suas músicas. "Talvez eu me exponha, mas acho difícil fazer qualquer coisa que não tenha valor emocional, ou não mexa comigo de certa forma. Ao não explicar minhas letras para as pessoas, isso na verdade me dá liberdade para me expressar sem limites nas canções".

Safe Trip Home foi lançado no mundo todo com suas 11 faixas originais, sendo em seletos mercados também lançada uma edição de luxo com 3 faixas bônus. Foi o nº1 do Top 100 Álbuns Europeus e na Suíça, ficando no top 10 de outros nove países. Recebeu uma maioria de críticas positivas, destacando-se as 3 estrelas e meia da revista Rolling Stone, e as 4 do site The Guardian. Apenas a primeira faixa, Don't Believe In Love, foi lançada como single e teve clipe com participação da cantora.

Para as outras 8 músicas (incluindo Don't Believe In Love), foram filmados clipes com diferentes diretores ao redor do mundo (nenhum com participação da cantora), onde a eles era apenas dito o tema: lar. Além de serem postados na conta oficial da cantora no YouTube; foram publicados no site oficial, e um outro foi criado exclusivamente para eles (leia aqui sobre ele).

Resta-nos agora aguardar pela nova criação de Dido. Sabemos que vale a pena esperar.


Atualização (04/01/11): Não sei como consegui me esquecer, mas antes do lançamento de Safe Trip Home, em 2008, Dido havia publicado em sua conta oficial no YouTube vídeos da gravação do álbum. E aqui estão eles:



2 comentários:

Paulo Victor disse...

Pra min o melhor CD! da quase pra sentir a alma dela!

Gabriel Hermes disse...

No começo eu não gostei do cd.
Não parecia a Dido de sempre.

Demorou um bom tempo até que eu parasse para ouvi-lo novamente, e foi aí que descobri que não só não parecia, mas não era a Dido de sempre. Era a Dido muito mais madura, muito mais intensa e sincera.
Se tornou meu cd preferido e não é exagero dizer que escuto-o todos os dias.
Estava louco pra saber o que havia por trás da criação desse cd, e agradeço MUITO pelo post sobre isso!